Clubhouse e a pressa do marketing digital

Daniela Gebara

Daniela Gebara
Sócia e diretora comercial da ROCKY, especialista em gestão de grandes contas e gestão parcerias no mercado do marketing.
June 01, 2021


Cada ano que passa, as redes sociais vêm se consolidando como um dos principais braços do marketing digital na internet.

Nesse cenário progressivamente mais competitivo, enxergar as oportunidades que as flutuações do meio digital proporcionam é a chave para o futuro do segmento.

No início de 2021, vimos despontar uma grande força na mídia: o Clubhouse. Uma nova rede social que integra conversas por áudio em salas exclusivas de bate-papo.

Do dia para noite, o aplicativo conquistou milhões de downloads, impulsionado por uma proposta de valor disruptiva e pela promoção de diversas celebridades.

De maneira quase instantânea, a plataforma passou a figurar no centro dos holofotes do mercado de comunicação, atraindo o olhar de profissionais da área no mundo todo.

Como quase tudo, é necessário cautela em suas promessas. Ainda será preciso observar de perto os impactos que o Clubhouse trará para o mercado antes que o senso de urgência comprometa os resultados.

Quer saber mais sobre a proposta dessa nova rede social e as oportunidades que ela traz para o marketing digital? Então continue conosco nas próximas linhas!

O que é o Clubhouse?

Apesar do hype recente, o Clubhouse foi lançado em março de 2020 - mais um projeto de mentes ambiciosas do Vale do Silício.

Com o desafio de criar uma nova rede social, Rohan Seth e Paul Davidson apostaram no áudio como elemento diferencial do seu produto.

O recurso, que vem embalado com a popularização dos podcasts, é queridinho das plataformas digitais e se mostrou particularmente oportuno para consolidar a proposta do aplicativo.

Como destacado em uma carta pública direcionada para usuários e investidores, os criadores desejavam construir uma rede social mais humanizada, onde “ao invés de postar, os usuários pudessem se reunir e conversar”.

Alinhado a isso, o fato das interações no aplicativo ocorrerem em tempo real, sem a possibilidade de gravar, tornam a experiência ainda mais distinta e imersiva.

Existe até quem conteste que o Clubhouse possa ser denominado de rede social, visto que seu formato em quase nada se assemelha às gigantes já consolidadas no mercado.

Independente do nome, a plataforma conseguiu conquistar em pouco tempo um grande público. Dado ainda mais significativo tendo em vista que ela só está disponível para aparelhos iOS.

Além disso, um dos grandes trunfos da estratégia de valor da nova rede social foi viabilizar seu acesso somente para pessoas convidadas.

Ou seja, de nada adianta apenas baixar o aplicativo na Apple Store. Você ainda precisará de um convite de algum usuário ativo para poder ter acesso.

Essa particularidade transforma o Clubhouse numa experiência altamente exclusiva. E isso fomenta o senso de pertencimento de seu público interno na mesma medida em que atrai a curiosidade das pessoas de fora.

A imagem mostra um aparelho smartphone iPhone prata e dois fones de ouvido bluetooth brancos deitados sobre uma superfície branca.

A valorização do áudio nas mídias digitais vem como tendência já há alguns anos e segue proporcionando oportunidades para iniciativas no meio.

Como a plataforma funciona?

Para criar uma conta no Clubhouse, o primeiro passo é receber um convite de algum integrante.

Uma vez na plataforma, você vai se deparar com uma interface minimalista, na qual estarão disponíveis diversas salas com temas específicos em tópico.

Dentro dessas salas, estão conferências de áudio transcorrendo ao estilo de podcast, como reuniões comunitárias que podem comportar até 5 mil integrantes de uma vez.

Os usuários nesses grupos se dividem em Speakers e Listeners, que são aqueles que podem falar e os que podem apenas ouvir. Esses “cargos” são definidos pelos moderadores de cada sala.

O ambiente é mais ou menos semelhante à uma chamada virtual em grupo, só que com as câmeras desligadas.

Diferente de outros canais, a nova rede social não permite o envio de fotos ou mensagens de texto. Tudo é baseado no compartilhamento de áudio.

Além disso, os grupos de chamada só estão disponíveis enquanto as discussões estiverem acontecendo, ou seja, ao vivo. Quando terminam, elas desaparecem da plataforma.

O formato do Clubhouse favorece conversas intimistas e reveladoras, além de simbolizarem uma ruptura com as modalidades de interação convencionais da web.

Não só isso, essa dinâmica também se alinha com a propensão dos usuários em buscar conteúdos mais aprofundados - tendência observada no mercado dos influenciadores digitais.

A imagem mostra um aparelho smartphone aberto numa guia onde é possível ver quatro ícones de aplicativos: instagram, twitter, facebook e clubhouse, da esquerda para a direita, respectivamente.

O Clubhouse aposta numa experiência mais humanizada para competir com as outras redes sociais do mercado.

Entendendo o hype

Além da proposta inovadora, alguns outros aspectos ajudam a explicar a popularização massiva da nova rede social.

O ingresso de figuras populares na plataforma, como Elon Musk, Mark Zuckerberg, Drake e Oprah, atraiu uma legião expressiva de novos usuários.

No entanto, o Clubhouse não deve seu sucesso somente a essa divulgação.

Desde o seu início, a plataforma já dava sinais de contemplar um planejamento muito apurado para sua difusão. Inclusive flertando com estratégias conhecidas do marketing.

Exclusividade

Disponível apenas para iOS e para um grupo seleto de convidados, a nova rede social apostou no exclusivismo para se propagar.

A estratégia é velha conhecida da indústria, e já favoreceu a consolidação de gigantes como Apple, Supreme e Rolex.

Além disso, a espontaneidade das conversas na plataforma, que remetem muito à dinâmica das interações offline, faz o aplicativo simular um evento social real, como uma festa exclusiva.

O que subliminarmente acaba sendo um apelo adicional à carência dos usuários por interações do gênero, ainda mais no contexto da pandemia.

Pertencimento

Outro grande acerto do Clubhouse foi desenvolver o senso de pertencimento entre seus usuários.

Além de exclusiva para convidados, a nova rede social limita o número de convites que cada novo integrante pode enviar.

Essa escassez promove um forte sentimento de “clube”. Além de fomentar uma obsessão ainda maior por parte das pessoas que estão fora do aplicativo.

A possibilidade de frequentar salas e ter conversas descontraídas com grandes influenciadores também é um forte atrativo nesse sentido.

Diferente de outras redes, a comunicação horizontal e democrática do Clubhouse possibilita interações bem próximas entre as celebridades e o público geral.

O que caracteriza um diferencial relevante e, consequentemente, ajuda a fortalecer a comunidade interna.

FOMO (Fear of Missing Out)

O FOMO, sigla inglesa para “medo de ficar de fora”, é um comportamento que reflete a necessidade do usuário da rede em estar por dentro de todas as novidades.

Com sua disseminação, o Clubhouse praticamente virou um sinônimo do termo.

Cortesia da particularidade operacional de não possuir conteúdos gravados, com interações ocorrendo exclusivamente em tempo real.

Dessa maneira, o usuário do aplicativo precisa estar constantemente conectado para se atualizar, pois absolutamente nada é salvo na plataforma.

Além disso, toda a mística que envolveu o boom da nova rede social, desde a divulgação por pessoas famosas até a escassez dos convites, pode ser elencada como parte dessa mesma estratégia.

Visto que, com sua popularidade viral, a curiosidade do grande público retroalimentou as buscas pela plataforma.

Alt text: A imagem mostra um aparelho iPhone na Apple Store, aberto na página de download do clubhouse. Ao fundo, é possível ver desfocada a tela de um computador e parte de seu teclado.

Com uma estratégia de divulgação organizada e propagando o sentimento de clube exclusivo, o clubhouse provou ser possível a viralização de uma nova rede social.

O potencial de marketing do Clubhouse

Se o Clubhouse vai ter gás suficiente para concorrer com as redes sociais já consolidadas no mercado ainda é uma incógnita.

No entanto, todos os elementos diferenciais que permitiram a ascensão da nova rede social sugerem um terreno potencial gigante para o marketing.

Mesmo ainda sem um quadro de monetização estabelecido, algumas empresas já se adiantaram em usufruir das oportunidades do aplicativo.

Marcas como Andorinha, Audi e Nescau foram pioneiras na utilização dos canais de áudio da nova rede social e promoveram debates junto do seu público.

Neste primeiro momento, é notável que a plataforma abre portas para novas soluções no meio digital, como posicionamento de mercado, divulgação e criação de comunidades, entre outros.

Humanização

O marketing human to human é uma tendência promissora de relacionamento entre clientes e empresas inseridos no meio digital.

A humanização das marcas foi um dos produtos da ascensão das redes sociais, e o Clubhouse não só se inclui, como dá um passo além nesse sentido.

O aspecto das interações em áudio permite um novo conceito de comunicação com o público a partir de uma aproximação muito mais pessoal.

Conferindo às empresas uma voz, as conexões entre as marcas e seus clientes tornam-se automaticamente mais empáticas e humanizadas.

Networking

Com as interações ocorrendo em salas temáticas, os interesses mútuos se afunilam, tornando mais dinâmica e síncrona a conexão entre os usuários.

Somando isso ao fato das salas comportarem até 5 mil pessoas, temos no Clubhouse um potencial exorbitante de networking.

Além da segmentação do público, outro ponto que fortalece a plataforma como um canal de negócios é o contato simplificado com pessoas qualificadas.

Diferentemente do Linkedin, que segue um formato mais convencional, o Clubhouse possibilita uma conexão irrestrita com líderes empresariais e empreendedores.

Para entrar em contato com eles, basta entrar em uma de suas salas e pedir permissão para falar.

Clubhouse veio para ficar?

Com foco no conteúdo e na espontaneidade, a nova rede social inova ao ser um canal de comunicação autêntico, com menos espaço para “vitrines” e jogos de aparências.

Contudo, ainda é cedo para cravar qual será seu futuro, seja para o marketing digital ou para a própria web.

Frequentemente, novas redes sociais que aparecem no mercado fracassam, sendo compradas para sua extinção ou por terem seus recursos descaradamente copiados por peixes maiores.

A falta de discrição por parte das grandes empresas reflete o ambiente inseguro e repleto de ameaças que é o digital.

O Clubhouse já recebeu as boas vindas do meio: em resposta à sua ascensão, o Instagram e o Twitter integraram recursos de áudio similares em suas respectivas plataformas.

Por sua vez, a nova rede social universalizou seu acesso para dispositivos smartphone, e agora usuários de android também podem baixar o aplicativo.

Nesse cenário de disputas acirradas e desdobramentos imprevisíveis, os próximos passos do aplicativo permanecem um mistério. Ainda será preciso tempo para o Clubhouse mostrar a que veio.

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