A digitalização não existe e vamos te explicar o porquê

Luiz Fernando Ruocco

Luiz Fernando Ruocco
Sócio e diretor de operações da ROCKY, apaixonado por marketing digital e performance.
August 09, 2021


Esse título pode soar estranho ou até como um “caça-clique”, mas não deixa de ser verdadeiro: a transformação digital nas empresas não existe - pelo menos não na forma como a maioria das pessoas pensa sobre ela.

Atualmente, muito se fala sobre a digitalização e a necessidade de oferecer no ambiente online uma experiência que atenda às expectativas do usuário.

Esse interesse crescente das empresas, definitivamente acelerado com a pandemia de covid-19, simbolizou uma ruptura com o status quo empresarial e colocou o digital no centro das atenções corporativas.

Entretanto, se por um lado a transformação digital nas empresas é inevitável, por outro, sua repercussão generalizada cria ruídos que obscurecem e distorcem o tema.

Somando isso ao movimento acelerado com que as novas tecnologias surgem, caímos em um cenário onde é cada vez mais fácil se perder no real significado dos termos.

Neste post, vamos abordar este fenômeno da Era Digital, os conceitos que as pessoas confundem e quais devem ser os caminhos para a verdadeira digitalização.

A transformação digital até os dias atuais

A imagem mostra a vitrine de algum estabelecimento onde é possível ler, em branco, os dizeres “free wifi”, junto ao símbolo da conexão wireless.

O fenômeno da digitalização é consequência das possibilidades promovidas pelos avanços tecnológicos.

Muito antes das tecnologias de inteligência artificial invadirem a sociedade e passarem a fazer parte do nosso dia a dia, a digitalização trilhou um longo caminho de desenvolvimento.

A exploração comercial da nossa estimada Internet teve início no final da década de 90, com a revolução que os novos servidores de e-mail da época trouxeram.

Mais complexos e tecnológicos, esses sistemas passaram a possibilitar que as empresas enviassem mensagens padronizadas para seus clientes. O e-mail marketing surgia como um dos primeiros canais digitais de relacionamento.

Pouco tempo depois, sedentas para explorar as novas possibilidades que as tecnologias ofereciam, as companhias começaram a investir no desenvolvimento de websites para criar um novo espaço de conexão com o público.

Esse cenário foi o berço da visão estratégica que até hoje movimenta a integração entre negócios e tecnologia: a necessidade de engajar os clientes em diferentes canais de comunicação.

Desde então, os processos comerciais se tornaram cada vez mais dependentes da Internet e da automação.

Em algum momento, a tecnologia digital parou de apenas facilitar e acelerar os processos manuais e passou a servir para demandas estratégicas e operacionais, que, sem ela, não seriam possíveis.

Nessa esteira, chegamos ao problema presente: a crença equivocada de que a tecnologia basta para solucionar todos os problemas e a deturpação do real significado da transformação digital nas empresas.

A digitalização não é um projeto

A imagem mostra o que parece ser a sede de uma organização. Em primeiro plano, é possível ver um homem de cabelos louros acessando um notebook em pé. Atrás dele, vemos outros três funcionários, um homem e duas mulheres, que discutem algum projeto com o apoio de uma lousa de apresentação. Ao fundo, existe mais uma mulher, que conversa ao telefone enquanto segura um tablet.

Muito além de um projeto do departamento de TI, a digitalização deve envolver todos os setores da empresa.

O maior erro dos gestores atuais é ter a visão limitada de que a transformação digital nas empresas é apenas mais um projeto.

É preciso deixar claro que nenhum programa resolve a questão e a tecnologia em si não é autossuficiente para gerar resultados se não houver um planejamento estratégico por trás.

A verdadeira digitalização vai muito além de softwares com soluções tecnológicas, e exige mudanças profundas em todos os níveis da organização, desde os CEOs até os estagiários.

Ninguém está dizendo que as ferramentas não são essenciais para as operações de qualquer empresa - realmente, não há mais espaço para processos manuais suscetíveis ao erro humano enquanto existem alternativas digitais.

No entanto, as ferramentas em si jamais devem ser o foco.

Supondo que você implemente uma plataforma avançada de gestão para o seu negócio, que dinamize e torne as tarefas relacionadas extremamente mais fáceis. Conceder treinamento para que seus funcionários aprendam a operá-la é parte importante do processo, mas não é o bastante.

Se os profissionais não passarem a enxergar a digitalização como parte do DNA da empresa, eles só estarão usando um novo instrumento para executar as mesmas funções.

Por isso, a transformação digital nas empresas deve vir alinhada a uma reformulação da cultura da organização, junto ao desenvolvimento de uma mentalidade que possibilite a utilização da tecnologia de forma estratégica.

Ela diz muito mais respeito à forma como os recursos tecnológicos são utilizados, tanto para resolver os transtornos, quanto para implementar ideias inovadoras.

Quando o processo é executado da maneira correta, com a conquista de uma cultura digital, você passa a visualizar com facilidade quais são suas prioridades e o que a tecnologia pode oferecer para solucionar cada questão.

Os pilares da transformação digital

A imagem mostra a interface do Google Analytics, exibindo métricas sobre cliques, impressões e CTR.

A coleta, armazenagem e análise de dados é um dos domínios estratégicos que devem nortear a transformação digital nas empresas.

No livro ”Transformação Digital: repensando o seu negócio para a Era Digital” o escritor David L. Rogers, especialista em estratégia digital, listou cinco domínios estratégicos que nos ajudam a observar esse novo mundo mais de perto.

Os pontos debatidos indicam o reflexo das novas tecnologias para a reformulação estratégica das velhas práticas corporativas e sinalizam qual deve ser o caminho para a verdadeira transformação digital nas empresas.

Clientes

Na era da digitalização, a relação entre empresas e consumidores mudou completamente - as tecnologias digitais posicionaram os clientes como maiores influenciadores do que anúncios ou celebridades.

Sendo um fator crítico para o sucesso de qualquer negócio, eles estão dinamicamente conectados e influenciando outras pessoas, moldando a reputação de marcas através das redes sociais.

Dito isso, para empreender a verdadeira transformação digital, as empresas devem deixar de ver os clientes como meros alvos e começar a reconhecê-los com mais autonomia, como potenciais influenciadores e parceiros de inovação.

Competição

A digitalização abriu caminho para um mundo de fronteiras mais fluidas em relação aos setores, derrubando o velho pressuposto de que competição e cooperação são opostas no mundo comercial.

Hoje em dia, as tecnologias digitais permitem que negócios criem relacionamentos comerciais mais flexíveis, interagindo com outras empresas - seja por modelos de negócio interdependentes ou por compartilharem de desafios externos.

Como consequência, a competição deixa de ser pela venda de produtos similares e passa a ser uma disputa de influência entre empresas.

Dados

Nos modelos de negócio tradicionais, os dados eram caros de se obter e difíceis de armazenar, além de precisarem da manutenção de sistemas de TI massivos.

Em contrapartida, hoje, os dados estão sendo gerados numa taxa sem precedentes, com sistemas de armazenamento em nuvem cada vez mais baratos, disponíveis e fáceis de operar.

No contexto da digitalização, se transformam em ativos estratégicos que podem ser aproveitados para liberar inúmeras fontes de valor para a empresa.

Inovação

Outro pilar da transformação digital nas empresas é a inovação: o processo pelo qual novas ideias são desenvolvidas e apresentadas no mercado.

Até pouco tempo, tudo que envolvia a capacidade de uma marca em inovar estava exclusivo à revisão de seus produtos finais, na forma de melhorias e incrementações.

Já na Era Digital, com as novas tecnologias e ferramentas de experimentação rápida, a inovação passa a ter uma abordagem bem diferente.

Hoje, as empresas podem testar novas ideias de forma ativa, coletando dados e recolhendo feedback de clientes num processo que economiza tempo, reduz o fracasso e melhora o aprendizado organizacional.

Valor

Antigamente, os negócios de sucesso costumavam ter propostas de valores rígidas e duradouras, como diferenciação no mercado pautada por preço ou marca.

Com a transformação digital, as empresas que ainda seguem esses moldes serão as primeiras a saírem do jogo. O motivo é simples: essa mentalidade vai contra a própria natureza transformadora e volúvel do digital.

Num cenário em que novas tecnologias surgem do dia para noite, faz todo sentido manter propostas de valor mutáveis que sejam capazes de evoluir continuamente.

Transformação digital nas empresas: conclusões

A digitalização possibilitou o alcance de altos padrões de performance, personalização e segurança e, no dicionário do mercado, disrupção e inovação são as palavras da vez.

No entanto, com a velocidade acelerada com que as tecnologias evoluem, é preciso cuidado para não confundir os termos e sustentar ideias equivocadas sobre o conceito.

A transformação digital nas empresas precisa ser uma adaptação do DNA da operação para com as novas tecnologias, que deve envolver profissionais de todos os cargos e níveis.

Para que as soluções tecnológicas possam, de fato, resolver problemas e aprimorar processos, a cultura da empresa inteira precisa passar a ser digital.

Portanto, a verdadeira digitalização é uma renovação cultural e organizacional. O que se discute sobre computadores e programas é apenas uma peça de algo bem maior. O mais importante não está na máquina - está nos operadores.

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